Pr. Orlando Martins
Atualmente, em muitas comunidades
de fé, muitos lideres não incentivam mais os seus membros a frequentarem a EBD
e nem promovem mais reuniões de ensino, o que infelizmente tem gerado em muitas
igrejas, uma geração de anões espirituais. Estes grupos se tornam presa fácil
de todo e qualquer tipo de movimento, haja vista, acabam aceitando todo e
qualquer tipo de manifestação como sendo divina e passam a desprezar a busca
pela Teologia Bíblica, envolvendo-se em uma busca frenética pelo sobrenatural.
Diante desta situação, alguns grupos, carentes de reflexão teológica séria,
acabam importando modismos, os quais criam campo no meio evangélico. Entre os
perigos, podemos citar os pneumatismos, que conduzem o povo à anarquia
espiritual, gerando um comportamento típico de um povo que desenvolveu a sua
própria cartilha, a informalidade, com muito espaço para o sensacionalismo e
pouco para a reflexão teológica com base em fenômenos rápidos, com o intuito de
atender às exigências do imediatismo teológico, o que cria campo para o chamado
cristianismo fast-food, das coisas rápidas, dos efeitos dinamites: Onde não
existe espaço para o pensar e para a reflexão.
Acerta certo pensador pentecostal quando faz uma correlação entre o
cristianismo epidérmico dos dias hodiernos e a coca cola que apenas nos
transmite um prazer momentâneo mais traz males para a saúde, o que faz com que
muitos busquem apenas o poder, mas se esqueça da palavra, o que acaba gerando
no seio da Igreja, o que chamamos de teologia popular, que paradoxalmente a
teologia bíblica, valoriza mais a experiência do que a palavra
Teologia bíblica x Teologia popular
Muitos com boa intenção desejam
verdadeiramente obter o poder de Deus, mas como não possuem uma base sólida na
palavra acabam por confundir avivamento com movimento, o que gera o chamado
cristianismo oba oba e promove mais movimento do que avivamento que só é
possível mediante a busca pelos
fundamentos, como bem respondeu o Senhor Jesus aos saduceus: “Errais, não
conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus” (Mt 22.29). Este grupo acaba
criando a sua própria linguagem e se distancia da sistematização das
escrituras, conforme se vê hoje nas igrejas as frases de efeito que são à base
de uma cartilha de um grupo que detém a sua própria Teologia a informalidade:
“É mistério, Veja o varão de branco! Queima
ele Jeová! Receba a bola de fogo!Recebaaaa! Estes jargões são típicos de grupos
que buscam apenas o poder e não a palavra que é a verdadeira fonte deste poder,
o que acaba por culminar numa espiritualidade exibicionista e epidérmica, onde
não somos medidos pelo que somos ou fazemos, mas pelo poder que possuímos. Infelizmente
este é o reflexo da falta de ensino, haja vista que as igrejas onde os mestres
estão calados as heresias tomam campo e passam a fazer parte da vida da
comunidade como algo normal, destarte, diante do exposto, vê a importância do
ministério de ensino na vida da Igreja e em especial a Escola Bíblica. A EBD é o
local onde se aprende os fundamentos da fé e para que possamos compreender bem
esta premissa, basta estudarmos a importância do ensino ao longo da narrativa
bíblica.
Ensino no Antigo Testamento:
Primeiramente, o ensino era ministrado pelos anciões (Nm 22.29),
posteriormente, pelos levitas e depois pelos escribas (Ed 7.10). Após o retorno
do exílio babilônico de setenta anos, o povo judeu havia se esquecido do ensino
da lei do Senhor. Diante dessa situação Esdras, o escriba, leu a lei perante o
povo, desde a alva (cinco horas da manhã) até aproximadamente o meio-dia e um
grupo de escribas traduziam o ensino, para que o povo, que falava aramaico,
pudesse compreender o real sentido do
texto. Esta passagem é considerada por muitos especialistas, como sendo a primeira
escola bíblica, pois foi a primeira vez que houve interpretação de passagens
bíblicas, praticando-se o exercício tanto da hermenêutica como da exegese. O
verdadeiro ensino bíblico produz arrependimento e confrontação, o que gerou um
grande avivamento espiritual entre o povo de Israel.
Ensino no Novo Testamento: Podemos observar claramente o ministério
do ensino na vida de Apolo, que era poderoso em palavras (At 18.24-28); no
ministério do apóstolo Paulo, que ministrava sempre doutrinando as Igrejas; e
em nosso Senhor Jesus, nosso maior exemplo, sendo chamado 50 vezes de mestre
nos evangelhos (Jo 3.1). Seu ensino era ministrado por parábolas e por meio de
pregações no templo. Após a sua morte, nosso Senhor deixou como mandamento
principal a tríplice missão da Igreja: “Evangelizar,
Discipular e Ensinar”, Mt 28:18-20: “18
Então, Jesus aproximou-se deles e disse: “Foi-me dada toda a autoridade nos
céus e na terra”. 19 Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 ensinando-os a
obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. E eu estarei sempre com vocês, até o
fim dos tempos.” Esta tríplice missão, reflete em sua essência os três
tipos de mensagem que da Igreja neotestamentária,
“Kerigmática,
catequética e parinética”. Como
fruto desta missão, iremos abordar estes
três tipos de mensagem, que refletem a exposição da palavra na comunidade do
NT.
Mensagem Kerigmática (Ide): Este termo deriva do grego “kerigma”,
que alude a boas-novas, podendo ser então a mensagem que evangeliza, visando ao
‘ide’ de Jesus (Mc 16.15), por intermédio da pregação, conhecida como mensagem
kerigmática. A evangelização mundial deve ser o objetivo primordial do serviço
cristão, pois Jesus veio para servir e dar a sua vida em resgate por muitos,
morrendo na cruz do calvário e oferecendo o seu sangue para o resgate da
humanidade perdida (Jo 3.16; Gl 3.13). Nos dias atuais, a Igreja conta com
vários recursos para cumprir cabalmente a sua missão de agência evangelizadora
do mundo.
Mensagem Catequética (Fazer Discípulos): A mensagem catequética é
voltada para o ensino do novo
convertido, visando o discipulado cristão (Cl 1.28-29). Para que exista edificação,
deve-se, primeiramente, trabalhar na igreja com o discipulado, ou seja, com a
mensagem catequética, para que o homem procure ser um eterno discípulo ou
aprendiz de Cristo, permanecendo na palavra, que, não obstante, é a fonte da
maturidade de um cristão. “Se vós permanecerdes na minha palavra,
verdadeiramente, sereis meus discípulos” (Jo 8.31).
Mensagem Parinética (Ensinando): Após o processo inicial de
discipulado, o homem encontra-se pronto para ser ensinado por meio da mensagem
parinética ou de instrução e edificação para os cristãos. Nos dias hodiernos, a
edificação pode ser definida como uma das mais importantes tarefas da Igreja,
pois onde existe edificação os membros poderão produzir com mais afinco para o
reino de Deus. Para definir a edificação como atividade espiritual, devemos primeiramente lembrar que Jesus é o pão da vida que nos é dado
através de sua palavra (Jo 6:35). Após o processo inicial de discipulado o
homem encontra-se pronto para ser ensinado através da mensagem parinética ou de
instrução e edificação para os cristãos.
De acordo com o teólogo Jesiel Paulino: “Trata-se da mensagem de
instrução que visa produzir orientação e crescimento na vida cristã, visando
nossa condução à estatura de varão perfeito”. “ Este tipo de mensagem procura conduzir o
homem ao amadurecimento espiritual” Antes, seguindo a verdade em caridade,
cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4:15).Esta tríplice
missão, além de ser executada por meio dos apóstolos, pregadores e
evangelistas, haviam também na Igreja
primitiva pastores, mestres e ensinadores,
que eram grandemente usados pelo Senhor,
para ensinar e doutrinar a Igreja, por meio da edificação.
Como reflexão
O ministério
do ensino é de suma importância para o desenvolvimento do corpo de Cristo, haja
vista que as igrejas cujos mestres e ensinadores estão calados tornam-se um
atrativo especial para as seitas heréticas e modismos antí-biblícos. Nossas
Igrejas têm investido no ministério do ensino? Até que ponto, este ministério
tem sido considerado importante para a Igreja, diante do contexto pós-moderno
em que nos encontramos!
Pr. Orlando Martins
Vice-presidente da AD Mais de
Cristo em Florianópolis, pastor
auxiliar, bacharel em teologia e jornalismo, especializando em educação,escritor, diretor
da Faculdade Mais de Cristo e professor de matérias teológicas em seminários e faculdades no estado de SC.
Referências bibliográficas
- PAULINO, Jesiel. III EEDUC. Teologia e
espiritualidade, 2002. Ed. CEC, Itajaí,SC.100 p.
- PAULINO,Jesiel.EBO.A Integridade e
Espiritualidade do Ministro, 2002. Ed. CEC, Itajai, SC.40 p.
- MARTINS, Orlando. Como ser um servo, ed.
Particular, 2011, Florianópolis,SC.
- MARTINS,
Orlando. O Poder de Deus, ed. Conceito,2009. Ed. Conceito, Florianópolis, SC.